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AMENIDADES
Um cliente muito respeitado entra na padaria que freqüenta
há anos e diz ao atendente:
- Olá, eu queria encomendar um bolo, pois amanhã é o aniversário da minha esposa.
- Tudo bem senhor Paiva, e quantas velinhas a gente põe nele?
- 30, como sempre!
- Olá, eu queria encomendar um bolo, pois amanhã é o aniversário da minha esposa.
- Tudo bem senhor Paiva, e quantas velinhas a gente põe nele?
- 30, como sempre!
Muito impressionantes os obituários publicados hoje sobre
dom Eugenio Salles. Li, reli e fui conferir de novo o nome do retratado, pois
achei que devia haver algum equívoco. Pensei que se tratasse de algum obituário
tardio do saudoso dom Helder Câmara, este sim um santinho, que deixou suas pegadas
missionárias, como exemplo de caridade cristã. Ele pregava uma igreja voltada
para os pobres, era um exemplo de desprendimento, humildade, absoluta ausência
de qualquer tipo de vaidade ou arrogância, um sacerdote de "pés
descalços", totalmente solidário aos jovens perseguidos pela ditadura e,
por isso mesmo, ele próprio um perseguido e removido, devido às políticas do
clero, do Rio de Janeiro, então centro dos acontecimentos nacionais, para
Olinda...
Dom Helder foi chamado de "Arcebispo Vermelho",
teve seu acesso à mídia vetado pelo AI-5, foi pessoalmente perseguido pelo
ditador Médici e, como contraponto a tantas maldades, dom Helder só havia
plantado coisas boas: construiu a Cruzada São Sebastião no Jardim de Alah,
fundou a Comissão de Justiça e Paz, fundou o Banco da Providência, que
multiplicou e até hoje multiplica bondades aos pobres neste estado. Faz pensar
que, não fosse por dom Helder, a posição da Igreja Católica no Rio de Janeiro,
onde não tem mais a liderança que tinha, estaria bem pior...
Curiosamente, foi justamente durante o "período dom
Eugenio" que a Igreja Católica no Rio de Janeiro e, por consequência, no
Brasil - já que o Rio, sabemos, era, pois era mesmo, no tempo passado, o tambor
de ressonância nacional, formava opinião, dava o exemplo - viu acontecer o
início e a precipitação de seu declínio. Pois não vamos atribuir apenas à
competência das igrejas evangélicas, das seitas pentecostais ou, como querem
alguns, à "ingenuidade dos fiéis", a queda da Igreja Católica nesse
ranking...
"Você é 100% responsável pelo que lhe acontece",
disse-me outro dia uma adepta da Mandala olhando-me dentro dos olhos. Estava
certa. Somos mesmo. Assim foi com a Igreja Católica no Brasil. Com dom Eugenio
à frente, fechando os olhos às maldades cometidas durante a ditadura, fechando
seus ouvidos e os portões do Sumaré aos familiares dos jovens ditos
"subversivos", que lá iam levar suas súplicas, como fez com minha
mãe, Zuzu Angel (e isso está documentado), e hoje, supreendentemente, os
jornais querem nos fazer acreditar que ocorreu justo o contrário!...
Era público e notório
e mais do que sabido naquela época que dom Eugenio endossava que fossem
chamados de "padres vermelhos" (alcunha que, então, mesclava rejeição
e pânico) aqueles religiosos que abrigavam, sob suas batinas poídas, em suas
paróquias suburbanas, os jovens que tentavam escapar das torturas e das
sentenças de morte sumária...
Mas não é isso que os obituários de hoje contam...
Como não contam da mágoa de padres jovens, brilhantes
pregadores, que conseguiam lotar as missas de suas paróquias com legiões de
fiéis, multidões de católicos, jovens
padres que ganhavam visibilidade, convites, apareciam na imprensa, somavam
admirações e logo eram removidos por dom Eugenio para paróquias bem distantes,
como se fossem ironicamente punidos, em vez de serem premiados, pelo belo
trabalho que realizavam para a Igreja Católica. Os bons pregadores eram
afastados...
Alguns desses padres, que poderiam ter feito belíssimas
carreiras no clero, foram podados na origem. Uns caíram no mais completo
esquecimento. Outros entraram em depressão. Soube de alguns que abandonaram a
batina. Não era de boa política sobressair-se na "era dom Eugenio
Salles"...
Duplo castigo: para os padres e para os paroquianos, que
assim iam acumulando decepções com sua religião. Outro fator que contribuiu
para o declínio católico no Rio nesse período foi a série de proibições tolas,
que, em vez de inspirar bondade, em vez de agregar seguidores, só motivaram
afastamentos...
Nas cerimônias de
casamento, foram proibidas músicas classificadas como "não sacras", e
sabe-se lá por quais critérios. Então, por exemplo, uma jovem chamada
Luciana não podia mais entrar na igreja ao som da singela cantiga
"Luciana", de Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, como esteve tão em
moda. Caprichos, arbitrariedades, tolices, que só afastavam os católicos de sua
igreja...
Batizados só podiam ser coletivos. Padres só eram
autorizados a celebrar batizados e casamentos na igreja, não mais em
residências, sítios, casas de festas. O que antes era corriqueiro passou a ser
proibido. Então, tornou-se usual acontecerem casamentos de católicos oficiados
por pastores protestantes. Logo, o oficiante mais procurado, era o pastor Jonas
Rezende, pai da atriz Lidia Brondi, lembram? Que aliás prega lindamente. A
sociedade católica do Rio de Janeiro acostumou-se a escutar as belíssimas
preleções do pastor Jonas, seus inspiradíssimos sermões matrimoniais...
Tudo passou a ser difícil na Igreja Católica no Rio de
Janeiro. Conseguir marcar uma missa de sétimo dia, só com pistolão. Uma extrema
unção em casa, só gente muito bem relacionada. Vários pátios paroquiais laterais às igrejas, onde os fiéis antes
confraternizavam, onde aconteciam as quermesses, os bazares, as reuniões
pós-missas, antigos centros de convívio, foram entregues à especulação
imobiliária. Viraram edifícios, shopping centers. Antigas igrejas foram
passadas nos cobres. Instalaram-se em andares de prédio. Outras se tornaram
construções espremidas entre um edifício e outro, como aconteceu com a Nossa
Senhora da Paz. Igrejas sem horário pra abrir nem pra fechar, "por
questões de segurança"...
A Igreja Católica, no Rio, sob a égide de dom Eugenio
Salles, foi cada vez mais se distanciando dos pobres e se aproximando,
cultivando, cortejando as estruturas do poder. Isso não poderia acabar bem.
Acabou no menor percentual de católicos no país: 45,8%...
Não há, neste texto, qualquer intenção de ressentimento.
Apenas o desejo jornalístico da correção histórica. Dom Eugenio padeceu na
terra de um mal de saúde. Os pecados, já pagou por eles. Em seus últimos tempos
de vida, a lucidez e a ausência dela alternaram-se. Atenciosos, o arcebispo dom
Orani Tempesta, assim como o cardeal-arcebispo anterior, dom Eusébio, mantinham
o antigo cardeal do Rio, dom Eugenio, vivendo na residência do Sumaré, com
todos os cuidados, a família, a estrutura proporcionada pela Arquidiocese, a
que não mais teria direito, por já estar afastado do cargo...
Dom Eugenio teve, em vida, uma grande habilidade: manter
ótimas relações com os grandes jornais, para os quais contribuiu regularmente
com artigos. Ótimas relações com os jornais, os jornalistas e os donos dos
jornais antes da morte. E, como vimos pelo que foi publicado no dia de hoje,
também após ela. E são os jornais que legam os registros que escrevem a
História...
DOM EUGENIO SALLES
ERA, COM TODO O RESPEITO, CARDEAL DA DITADURA
POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE
O tratamento que a mídia deu à morte do cardeal dom Eugenio
Sales, ocorrida na última segunda-feira, com direito à pomba branca no velório,
me fez lembrar o filme alemão "Uma cidade sem passado", de 1990,
dirigido por Michael Verhoven. Os dois casos são exemplos típicos de como o
poder manipula as versões sobre a história, promove o esquecimento de fatos
vergonhosos, inventa despudoradamente novas lembranças e usa a memória, assim
construída, como um instrumento de controle e coerção.
Comecemos pelo filme, que se baseia em fatos históricos. Na
década de 1980, o Ministério da Educação da Alemanha realiza um concurso de
redação escolar, de âmbito nacional, cujo tema é "Minha cidade natal na
época do III Reich". Milhares de estudantes se inscrevem, entre eles a
jovem Sônia Rosenberger, que busca reconstituir a história de sua cidade, Pfilzing
– como é denominada no filme – considerada até então baluarte da resistência
antinazista.
Mas a estudante encontra oposição. As instituições locais de
memória – o arquivo municipal, a biblioteca, a igreja e até mesmo o jornal
Pfilzinger Morgen – fecham-lhe suas portas, apresentando desculpas
esfarrapadas. Ninguém quer que uma "judia e comunista" futuque o
passado. Sônia, porém, não desiste. Corre atrás. Busca os documentos orais.
Entrevista pessoas próximas, familiares, vizinhos, que sobreviveram ao nazismo.
As lembranças, contudo, são fragmentadas, descosturadas, não passam de fiapos
sem sentido.
A jovem pesquisadora procura, então, as autoridades locais,
que se recusam a falar e ainda consideram sua insistência como uma ameaça à
manutenção da memória oficial, que é a garantia da ordem vigente. Por não ter
acesso aos documentos, Sônia perde os prazos do concurso. Desconfiada, porém,
de que debaixo daquele angu tinha caroço – perdão, de que sob aquele chucrute
havia salsicha – resolve continuar pesquisando por conta própria, mesmo depois
de formada, casada e com filhos, numa batalha desigual que durou alguns anos.
Hostilizada pelo poder civil e religioso, Sônia recorre ao
Judiciário e entra com uma ação na qual reivindica o direito à informação.
Ganha o processo e, finalmente, consegue ingressar nos arquivos. Foi aí, no
meio da papelada, que ela descobriu, horrorizada, as razões da cortina de
silêncio: sua cidade, longe de ter sido um bastião da resistência ao nazismo,
havia sediado um campo de concentração. Lá, os nazistas prenderam, torturaram e
mataram muita gente, com a cumplicidade ou a omissão de moradores, que
tentaram, depois, apagar essa mancha vergonhosa da memória, forjando um passado
que nunca existiu.
Os documentos registraram inclusive a prisão de um judeu,
denunciado na época por dois padres, que no momento da pesquisa continuavam
ainda vivos, vivíssimos, tentando impedir o acesso de Sônia aos registros. No
entanto, o mais doloroso, era que aqueles que, ontem, haviam sido carrascos,
cúmplices da opressão, posavam, hoje, como heróis da resistência e parceiros da
liberdade. Quanto escárnio! Os safados haviam invertido os papéis. Por isso,
ocultavam os documentos.
Deus tá vendo
E é aqui que entra a
forma como a mídia cobriu a morte do cardeal dom Eugênio Sales, que comandou a
Arquidiocese do Rio, com mão forte, ao longo de 30 anos (1971-2001), incluindo
os anos de chumbo da ditadura militar. O que aconteceu nesse período? O
Brasil já elegeu três presidentes que foram reprimidos pela ditadura, mas até
hoje, não temos acesso aos principais documentos da repressão.
Se a Comissão Nacional da Verdade, instalada em maio último
pela presidente Dilma Rousseff, pudesse criar, no campo da memória, algo
similar à operação "Deus tá vendo", organizada pela Policia Civil do
Rio Grande do Sul, talvez encontrássemos a resposta. Na tal operação, a Polícia
prendeu na última quinta-feira quatro pastores evangélicos envolvidos em golpes
na venda de automóveis. Seria o caso de perguntar: o que foi que Deus viu na
época da ditadura militar?
Tem coisas que até Ele duvida. Tive a oportunidade de
acompanhar a trajetória do cardeal Eugênio Sales, na qualidade de repórter da
ASAPRESS, uma agência nacional de notícias arrendada pela CNBB em 1967. Também,
cobri reuniões e assembleias da Conferência dos Bispos para os jornais do Rio –
O Sol, O Paiz e Correio da Manhã, quando dom Eugênio era Arcebispo Primaz de
Salvador. É a partir desse lugar que posso dar um modesto testemunho. Os bispos que lutavam contra as
arbitrariedades eram Helder Câmara, Waldir Calheiros, Cândido Padin, Paulo
Evaristo Arns e alguns outros mais que foram vigiados e perseguidos. Mas não
dom Eugênio, que jogava no time contrário. Um dos auxiliares de dom Helder, o
padre Henrique, foi torturado até a morte em 1969, num crime que continua
atravessado na garganta de todos nós e que esperamos seja esclarecido pela
Comissão da Verdade. Padres e leigos foram presos e torturados, sem que
escutássemos um pio de protesto de dom Eugênio, contrário à teologia da
libertação e ao envolvimento da Igreja com os pobres.
O cardeal Eugenio Sales era um homem do poder, que amava a
pompa e o rapapé, muito atuante no campo político. Foi ele um dos inspiradores das
"candocas" – como Stanislaw Ponte Preta chamava as senhoras da CAMDE,
a Campanha da Mulher pela Democracia. As "candocas" desenvolveram
trabalhos sociais nas favelas exclusivamente com o objetivo de mobilizar
setores pobres para seus objetivos golpistas. Foram elas, as
"candocas", que organizaram manifestações de rua contra o governo democraticamente
eleito de João Goulart, incluindo a famigerada "Marcha da família com Deus
pela liberdade", que apoiou o golpe
militar, com financiamento de multinacionais, o que foi muito bem
documentado pelo cientista político René Dreifuss, em seu livro "1964: A
Conquista do Estado" (Vozes, 1981). Ele teve acesso ao Caixa 2 do
IPES/IBAD.
Nós, toda a torcida do Flamengo e Deus que estava vendo
tudo, sabíamos que dom Eugênio era, com todo o respeito, o cardeal da ditadura.
Se não sofro de amnésia – e não sofro de amnésia ou de qualquer doença
neurodegenerativa – posso garantir que na época ele nem disfarçava, ao
contrário manifestava publicamente orgulho do livre trânsito que tinha entre os
militares e os poderosos.
"Quem tem dúvidas…basta pesquisar os textos assinados
por ele no JB e n'O Globo" – escreve a jornalista Hildegard Angel, que foi colunista dos dois jornais e avaliou assim
a opção preferencial do cardeal:
"A Igreja
Católica, no Rio, sob a égide de dom Eugenio Salles, foi cada vez mais se
distanciando dos pobres e se aproximando, cultivando, cortejando as estruturas
do poder. Isso não poderia acabar bem. Acabou no menor percentual de católicos
no país: 45,8%…"
Portões do Sumaré
Por isso, a
jornalista estranhou – e nós também – a forma como o cardeal Eugenio Sales foi
retratado no velório pelas autoridades. Ele foi apresentado como um combatente
contra a ditadura, que abriu os portões da residência episcopal para abrigar os
perseguidos políticos. O prefeito Eduardo Paes, em campanha eleitoral, declarou
que o cardeal "defendeu a liberdade e os direitos individuais". O
governador Sérgio Cabral e até o presidente do Senado, José Sarney, insistiram
no mesmo tema, apresentando dom Eugênio como o campeão "do respeito às
pessoas e aos direitos humanos".
Não foram só os políticos. O jornalista e acadêmico Luiz
Paulo Horta escreveu que dom Eugênio chegou a abrigar no Rio "uma
quantidade enorme de asilados políticos", calculada, por baixo, numa
estimativa do Globo, em "mais de quatro mil pessoas perseguidas por regimes
militares da América do Sul". Outro jornalista, José Casado, elevou o
número para cinco mil. Ou seja, o cardeal era um agente duplo. Publicamente,
apoiava a ditadura e, por baixo dos panos, na clandestinidade, ajudava quem
lutava contra. Só faltou arranjarem um codinome para ele, denominado pelo papa
Bento XVI como "o intrépido pastor".
Seria possível acreditar nisso, se o jornal tivesse
entrevistado um por cento das vítimas. Bastaria 50 perseguidos nos contarem
como o cardeal com eles se solidarizou. No entanto, o jornal não dá o nome de
uma só – umazinha – dessas cinco mil pessoas. Enquanto isto não acontecer, preferimos
ficar com o corajoso depoimento de Hildegard Angel, cujo irmão Stuart, foi
torturado e morto pelo Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Sua mãe, a
estilista Zuzu Angel, procurou o cardeal e bateu com a cara na porta do palácio
episcopal.
Segundo Hilde, dom Eugênio "fechou os olhos às
maldades cometidas durante a ditadura, fechando seus ouvidos e os portões do
Sumaré aos familiares dos jovens ditos "subversivos" que lá iam levar
suas súplicas, como fez com minha mãe Zuzu Angel (e isso está
documentado)". Ela acha surpreendente que os jornais queiram nos fazer
acreditar "que ocorreu justo o contrário!", como no filme "Uma
cidade sem passado".
Mas não é tão surpreendente assim. O texto de Hildegard
menciona a grande habilidade, em vida, de dom Eugenio, em "manter ótimas
relações com os grandes jornais, para os quais contribuiu regularmente com
artigos". As azeitadas relações com os donos dos jornais e com alguns
jornalistas em postos-chave continuaram depois da morte, como é possível
constatar com a cobertura do velório. A
defesa de dom Eugênio, na realidade, funciona aqui como uma autodefesa da mídia
e do poder.
Os jornais elogiaram, como uma virtude e uma delicadeza, o
gesto do cardeal Eugenio Sales que cada vez que ia a Roma levava mamão-papaia
para o papa João Paulo II, com o mesmo zelo e unção com que o senador Alfredo
Nascimento levava tucumã já descascado para o café da manhã do então governador
Amazonino Mendes. São os rituais do poder com seus rapapés.
"Dentro de uma sociedade, assim como os discursos, as
memórias são controladas e negociadas entre diferentes grupos e diferentes
sistemas de poder. Ainda que não possam ser confundidas com a
"verdade", as memórias têm valor social de "verdade" e
podem ser difundidas e reproduzidas como se fossem "a verdade" –
escreve Teun A. van Dijk, doutor pela Universidade de Amsterdã.
A "verdade" construída
pela mídia foi capaz de fotografar até "a presença do Espírito Santo"
no funeral. Um voluntário da Cruz Vermelha, Gilberto de Almeida, 59
anos, corretor de imóveis, no caminho ao velório de dom Eugênio, passou pelo
abatedouro, no Engenho de Dentro, comprou uma pomba por R$ 25 e a soltou dentro
da catedral. A ave voou e posou sobre o caixão: "Foi um sinal
de Deus, é a presença do Espírito Santo" – berraram os jornais.
Parece que vale tudo para controlar a memória, até mesmo estabelecer preço tão
baixo para uma das pessoas da Santíssima Trindade. É muita falta de respeito
com a fé das pessoas.
"A mídia deve ser pensada não como um lugar neutro de
observação, mas como um agente produtor de imagens, representações e
memória" nos diz o citado pesquisador holandês, que estudou o tratamento
racista dispensado às minorias étnicas pela imprensa europeia. Para ele, os
modos de produção e os meios de produção de uma imagem social sobre o passado
são usados no campo da disputa política.
Nessa disputa, a mídia nos forçou a fazer os comentários que
você acaba de ler, o que pode parecer indelicadeza num momento como esse de
morte, de perda e de dor para os amigos do cardeal. Mas se a gente não falar
agora, quando então? Stuart Angel e os que combateram a ditadura merecem que a
gente corra o risco de parecer indelicado. É preciso dizer, em respeito à
memória deles, que Dom Eugênio tinha suas virtudes, mas uma delas não foi,
certamente, a solidariedade aos perseguidos políticos para quem os portões do
Sumaré, até prova em contrário, permaneceram fechados. Que ele descanse em paz!
P.S: O jornalista amazonense Fábio Alencar foi quem me
repassou o texto de Hildegard Angel, que circulou nas redes sociais. O doutor
Geraldo Sá Peixoto Pinheiro, historiador e professor da Universidade Federal do
Amazonas, foi quem me indicou, há anos, o filme "Uma cidade sem
passado". Quem me permitiu discutir o conceito de memória foram minhas
colegas doutoras Jô Gondar e Vera Dodebei, organizadoras do livro "O que é
Memória Social" (Rio de Janeiro: Contra Capa/ Programa de Pós- Graduação
em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2005).
Nenhum deles tem qualquer responsabilidade sobre os juízos por mim aqui
emitidos.
José Ribamar Bessa Freire e professor, coordena o Programa
de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisa no Programa de Pós-Graduação
em Memória Social (UNIRIO)
- Pois é, a republiqueta farsante continua a fabricar seus
heróis de barros e santos de pau oco. Só quem foi contemporâneo dos anos de
chumbo sabe que o que está dito não tem uma inverdade e que, na terra de
“cristãos e humanitários” poucos têm a coragem de registrar que o “intrépido
pastor” não era esta generosidade toda que a grande mídia, safada, ordinária e
pusilânime tentou passar à opinião pública. Aliás, tem muita gente boa hoje
posando cinicamente de democrata que se acumpliciou e financiou a ditadura!
CARTA DE AUTORIA
DUVIDOSA GERA POLÊMICA NA FAMÍLIA CACHOEIRA
Uma carta de autoria duvidosa gerou polêmica na família do
contraventor Carlinhos Cachoeira. Inicialmente, o texto foi atribuído por
parentes ao próprio bicheiro, que está preso na Papuda. Depois foi negado. Uma
coisa é certa, a carta foi distribuída por familiares de Cachoeira.
A história dessa carta é cheia de mistérios. E o que chama
atenção é que no texto não há assinatura do bicheiro. O documento foi entregue
à repórter Iara Lemos, do G1, por Andressa Mendonça, mulher do contraventor.
Ele é endereçado ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).
No entanto, nenhuma carta, pedido ou ofício do tipo foi
protocolado no gabinete do presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto. Os
advogados do contraventor em Brasília e em Goiânia afirmam desconhecer o
documento. Andressa disse, inicialmente, que a carta foi escrita pelo marido e
entregue a ela por uma sobrinha dele.
Questionada sobre as contradições, Andressa mudou a versão.
Disse que uma sobrinha dele deu para ela dizendo que foi o tio que escreveu.
Mas que depois, a sobrinha de Cachoeira desconversou.
Alguns trechos dessa carta também são curiosos. No texto, em
primeira pessoa, o suposto Cachoeira faz um apelo pela sua liberdade e diz que
aceita usar uma tornozeleira de monitoramento caso obtenha decisão favorável
para ser solto. “Que coloquem uma tornozeleira em mim. Assim, poderão saber, 24
horas por dia, onde eu estarei. Que eu fique apenas em casa. Eu me disponho a
arcar com os custos de instalar um bloqueador de celular na minha casa”, diz a
carta.
Cachoeira, preso desde o fim de fevereiro e acusado de
comandar uma quadrilha que explorava o jogo ilegal com a ajuda de políticos,
policiais e empresários, já teve pedidos de liberdade negados em diversos
tribunais.
Em outro trecho, há reclamações do esquecimento dos amigos.
“Não há nas ruas quem queira ser visto comigo. Não há um só político que queira
falar comigo ao telefone. Não há um único empresário que queira se associar a
minha pessoa. Mesmo os que eram tidos por mim como amigos, agora declaram que
não me conhecem”, diz a carta.
Em outro momento, um apelo sentimental: “o contraventor que corrompe homens públicos
também tem coração, também chora, também sofre”. “Quero a mesma justiça de Daniel Dantas.
[...] Ora Excelência, mande me soltar, e a Constituição será cumprida”, diz
o texto em referência ao banqueiro Daniel Dantas, que foi preso em operação da
PF em 2008 e teve decisão favorável do STF para ser solto.
- Eu hein, se autêntica e parece não ser o caso, parece que
foi inspirada na música “Não dá pra ser feliz” do saudoso Gonzaguinha.
- A propósito, acho que o missivista não acertou o destinatário
que, pelo que acompanho em suas atuações não se compadece com o lamento de
mafiosos. É mais provável que outros guardiões da Constituição “Cidadã” se
comovam mais facilmente com os prantos dos corruptos e corruptores!
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