sexta-feira, julho 19, 2013



CASAMENTO DE NETA DE BARATA PODE TER CUSTADO R$ 2 MILHÕES
Carros que levaram a noiva e o “Rei dos Ônibus” já foram multados 22 vezes nos últimos três ano
RIO - Tudo começou a ser planejado há dois anos. Afinal, o casamento de Beatriz Barata e Francisco Feitosa Filho não podia ser apenas mais um. Foi a união de ninguém menos do que a neta daquele que é conhecido como o “Rei dos Ônibus” do Rio, o empresário Jacob Barata, com o herdeiro de Chiquinho Feitosa, ex-deputado federal cearense, que, em sua terra natal, também fez fortuna comandando empresas de transportes. A data marcada para a cerimônia, na Igreja do Carmo, no Centro do Rio, foi 13 de julho de 2013, no último sábado. Em seguida, todos os convidados foram ao Copacabana Palace para a festa. Ninguém falou oficialmente em custos, mas segundo cerimonialistas, o evento, para cerca de mil pessoas, deve ter saído por R$ 2 milhões.
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Jacob Barata e seu filho, o pai da noiva, chegaram às 19h, num Mercedes C-180, ano 2011, que permaneceu, então, duas horas parado na pista esquerda da Rua Primeiro de Março, embaixo de uma placa de “proibido estacionar”. Beatriz chegou às 19h20m, num Mercedes E-350, ano 2010. Em comum, os dois veículos tinham algo curioso: personagens de pelúcia da Disney pendurados no espelho retrovisor, um Mickey e uma Minnie. No currículo, os dois carros, em nome do Grupo Guanabara, holding de Barata, carregam 22 multas desde 2010, pelo menos três delas por não identificação do condutor que cometeu a infração. A última, do E-350, é de 27 de junho: um avanço de sinal vermelho, infração gravíssima, cometida na Avenida Atlântica.
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LATINO FOI ATRAÇÃO DA FESTA DE NETA DE JACOB BARATA: CACHÊ EM TORNO DE R$ 80 MIL
- Além de tudo, pelo visto, impera o mau gosto!
- Tal qual os iluminados dos três podres Poderes, a famiglia e convidados devem ter ficado “perplexa” com a manifestação ou, como são sem noção, é possível que tenham pensado tratar-se de tietes do Latino!
CASAMENTO DE BEATRIZ BARATA: NOSSO 14 DE JULHO, NOSSA BASTILHA CARIOCA!
Tendo o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e sra., como padrinhos, e como convidados os colecionadores de arte Sergio e Hecilda Fadel, que recentemente receberam a presidenta Dilma Rousseff para jantar em casa, no Rio, e cuja filha é casada com o filho do ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, além do colunista social de Fortaleza, Lalá Medeiros, casaram-se ontem, com festa que varou madrugada, no Copacabana Palace, Beatriz Barata, neta do maior empresário de ônibus do Rio de Janeiro, Jacob Barata, e Francisco Feitosa Filho, cujo pai é o dono da maior empresa do ramo no Ceará.
Acompanhar, via mídias sociais e MSMs recebidos, o protesto indignado contra este casamento diante da Igreja N. Sra. do Monte do Carmo e da festa no Copacabana Palace, me fez sentir clima de Revolução Francesa, correndo um frio na espinha, um presságio ruim. E me veio à mente a princesa de Lamballe, melhor amiga de Maria Antonieta, com a cabeça espetada na ponta de uma lança, pela multidão que invadiu as Tulherias.
Estávamos numa madrugada de 14 de Julho, mesma data da Revolução Francesa, e toda aquela manifestação, que ontem começou alegre, até divertida, berrando bordões bem humorados, outros de gosto duvidoso, teve consequências desastrosas, com cabeça ensanguentada, decisões equivocadas, batalhão de choque, bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e gás de pimenta, às 3,30h, 4h da manhã, diante de nosso Palácio de Versailles, emblema máximo do luxo, da riqueza e da sofisticação do país: o Hotel Copacabana Palace!
Vou contar como foi, tal e qual… Aquietem-se, concentrem-se e me escutem…
Com gritaria na calçada, o protesto diante da igreja causou tensão nos convidados, perturbou todo o tempo o ofício do padre e a noiva, Beatriz, em vez de cortejo de daminhas e pajens, precisou de cordão de isolamento para entrar na igreja.
Enquanto padre Alexandre fazia a homilia, escutava-se nitidamente os manifestantes em coro dizerem coisas como “ha,ha, ha, o noivo vai broxar”, “também quero meu Louboutin”, “úúú, todo mundo pra Bangu” e tambores, buzinas e panelas, pó-pó-pó-pó-pó, pó-po-ro-po-pó, fon-fon-fon etc. O cerimonial de moças e rapazes impecáveis, pra lá e pra cá, cochichando baixinho, apreensivos sobre como solucionariam a saída dos noivos. Foi com PM e seguranças.
Beatriz, calada e retraída, permaneceu tensa todo o tempo – pudera! – mas manteve o controle. Foi altiva.
Já na recepção, no Copacabana Palace, todos se descontraíram e puderam se divertir, porque no interior do hotel não se percebia o que se passava lá fora, à exceção daqueles nas mesas da varanda.
No calçadão da Atlântica, uma garotada bonitinha da Zona Sul fazia manifestação até divertida, à la carioca, com meninas vestidas de noiva, rapazes alguns de terno e gravata, sacando bordões inspirados como “Eu também quero meu Louis Vuitton”, “Cadê minha Chanel?”, “Nesse hotel tem Barata!”, “Eu também paguei essa festa, quero meu bem-casado” e aquele clássico chulo da noite, citado acima, que se referia ao noivo…
E dá-lhe buzina, bateção de panela, de tabuleiro de alumínio, e desacatos para as mulheres (lindas!), que entravam ou saíam decotadas, cobertas de bordados: “piraaaaaanha!”. Não poupavam ninguém.
Com todas as quatro entradas do hotel bloqueadas por eles, ninguém entrava, ninguém saía, pela internet, os seguidores que assistiam à transmissão do canal “Mídia Ninja” postavam comentários mais pesados, do tipo “CABRAL VAI É DORMIR AÍ !!!!” (detalhe: Cabral sequer figurava na lista de convidados da festa!); “cadê as bombas???chama pa nois estraga a festa!”; “BA-FO-ME-TRO NO HOTEL”; “Rico não tem Lei Seca?” (referindo-se aos que embarcavam em seus carros mesmo aparentando ter bebido, quando ainda se podia sair); “chocada com o valor dos presentes que a Baratinha pediu no casamento. Veja a lista:
http://migre.me/fsCZL” (localizaram a lista no site da H. Stern); “Candidato da Baratinha é Marcelo Freixo do PSOL” (foram checar no Face de Beatriz e descobriram); “ISSO.. TEM QUE JOGAR OVO MESMO…” (zangados porque a repórter foi maltratada por um policial à porta);  “Todos RATOS engravatados, saindo pelos fundos constrangimento é a única arma do povo!!” (houve uma hora em que os convidados conseguiram sair pela porta da Av. Copacabana);  “deixem suas mensagens de parabéns ao noivo”.
Vou omitir palavrões, baixarias e violências. Se é que já não transcrevi demais disso.
A horas tantas, chegou ao hotel a diretora-geral, Andréa Natal, que por força do cargo mora no Copa. Entrou pela porta lateral da Pérgola, junto ao Edifício Chopin. Aflita, vendo aquela multidão e a gritaria, parou para discutir com os manifestantes, iniciando rápido, bate-boca, logo sustado pelos seguranças, que a transportaram para dentro.
No interior do hotel mais lindo do Brasil, tudo eram maravilhas. No Golden Room, a apoteose do deslumbramento. O decorador Antonio Neves da Rocha plantou no meio do salão uma árvore frondosa, com os galhos alastrando-se por toda a área do teto, de onde pendiam fios com lampadário e buquês de flores. O chão coberto com grama. E a iluminação causava a sensação de se estar numa floresta-lounge, com estofados pretos.
Ali foi o show de Latino, que para entrar só conseguiu pela porta de serviço da Rodolfo Dantas, a da cozinha, driblando os manifestantes. Depois do bundalelê do Latino, houve ali a dança, com o DJ Papagaio e sandálias Havaiana vermelhas para todos os 1050 convidados que compareceram. Foram expedidos 1200 convites. Havia lugares sentados para todos, absolutamente todos.
No Salão Nobre, aquele comprido que sucede ao Golden Room, Neves da Rocha cobriu toda a parede de janelões que dá pra piscina com imenso painel único de Debret (ou seria Rugendas?) com super-mega-imensa-paisagem do Rio de Janeiro, abrangendo nossas montanhas, o mar, a Baía, florestas, do teto ao chão, criando visão fantástica.
Completavam o ambiente lustres enormes cobertos com heras, toalhas de damasco verde musgo cobriam as mesas até o piso.
O mesmo décor de toalhas musgo de damasco se repetia nos salões da frente e nas duas varandas, que foram cobertas e fechadas com paredes de muro inglês, com heras, e os mesmos lustres espetaculares. Cadeiras de medalhão suntuosas. Muito bonito.
Entre os três salões da frente, o do meio foi destinado a ser apenas o Salão dos Doces, com bem-casados da Elvira Bona, doces de Christiana Guinle, chocolates de Fabiana D’Angelo. Chá, café, brownies. O Céu, a Terra e o Mar também…
O champagne era Veuve Clicquot. Uísque Black Label. Aqueles coquetéis de sempre, Bellini, Marguerita etc. Vários bares de caipirinha, saquê etc. O bolo de Regina Rodrigues era um acontecimento, com vários andares, todo branco.
Buffet do Copacabana Palace, muito bem servido e elogiado. Na verdade, eram vários buffets, distribuídos por todos os salões e varandas. Mesas de frios. Pratos quentes. O cerimonial foi de Ricardo Stambowsky. As fotos, de Ribinhas.
Flores de Raimundo Basílio. Não houve exagero de flores, o verde deu o tom. Uma decoração em que prevaleceram o equilíbrio e a elegância. Luxo sem excessos.
Todo esse décor serviu de cenário à mais fantástica coleção de vestidos jamais reunida numa festa no Rio de Janeiro. Esta a opinião que ouvi de vários que lá estiveram, quer como convidados, quer prestando serviço ao evento. Um especialista em moda, que pediu para não ser identificado, falou: “Nunca vi tantos vestidos deslumbrantes como nessa festa. E de gente que ninguém conhece”. Acredita-se que a grande maioria das mulheres com essas roupas sensacionais, vestidos de alta costura, grandes marcas, fosse de convidadas do Ceará, que ocuparam vários apartamentos no hotel. O Copa bombou na festa e na ocupação.
Não apenas os vestidos eram extraordinários. As joias eram também fantásticas. A começar pelas da noiva, usando riviera de brilhantes fantástica no pescoço, dois enormes brilhantes nas orelhas e uma coroinha de ouro e grandes brilhantes, na cabeça, sempre usada pelas noivas da família. O vestido de Beatriz Barata foi obra da estilista Stela Fischer.
Tudo isso foi coordenado pela avó, Glória Barata, que durante a festa várias vezes se lembrou do filho assassinado naquela época da onda de sequestros no Rio de Janeiro. A família pagou o resgate, mesmo assim o jovem não foi poupado. Ela ainda guarda um grande sofrimento. Dona Glória é uma mulher sofrida e amável. Todos os que trabalham com ela e sua família a estimam.
Enquanto o minueto social seguia harmonioso, farfalhante e cintilante, entre as mesas de toalhas verde musgo adamascadas dos salões, no entorno do hotel, a contradança era outra.
Não têm pão? Comam bem-casados!  Da varanda, convidados rebatiam as provocações verbais atirando bem-casados na “plebe” (bem à la Maria Antonieta, que ofereceu bolinhos, lembram?) e remetiam aviõezinhos de notas de R$ 20 (aí, a inspiração já era mais próxima, à la Silvio Santos).
Num crescendo dos protestos, bate panelas, mensagens de Face e Twitter, imagens postadas, provocações, bordões, os ânimos foram se acirrando e não houve nada que se tentasse para apaziguá-los. Ao contrário.
Na portaria do hotel da Av. Copacabana, o motorista de um dos convidados arrancou o celular da repórter “Ninja”, que, como Ninja, deu um salto e conseguiu recuperá-lo, botando o elemento pra correr. Ela recorreu a um policial, que a tratou com impertinência, parecendo alcoolizado. Tudo isso registrado pela câmera Ninja. E a rede social participando, reagindo, se indignando.
Em seguida, correm todos para a Atlântica, prosseguem a gritaria. Uma convidada insiste em deixar o hotel, é impedida e inicia uma briga, quando um convidado, lá da varanda, atira um cinzeiro de vidro na cabeça de um manifestante, que se fere muito.
Vendo aquela imagem ensanguentada na tela da internet, a galera começa a postar desacatos enfurecidamente. A repórter corre para buscar socorro na ambulância de plantão diante do hotel (é lei quando se trata de evento com mais de 600) e o paramédico. Mas o médico não está, “foi lá dentro”. O rapaz machucado tenta entrar no hotel para ser socorrido. Os seguranças e porteiros impedem sua entrada. Está aí cometido o grande erro da noite!
O Copa, neste momento, rompe sua tradição histórica de cordialidade com a população carioca e de diplomacia e assume uma postura hostil.
A multidão na rua se enfurece. A multidão virtual também e passa a convocar o envio geral de comentários negativos à página do hotel na internet. Uma guerra aberta contra o maior tesouro da hotelaria brasileira! Eu, confesso, quase choro. Adoro o Copa. O Copa é o Rio, nossa memória, nossa História.
Mais uns 10, 15 minutos, e chega ao local uma advogada dizendo-se da OAB, localiza uma testemunha da agressão, consegue recolher a “arma do crime”, fragmentos do cinzeiro que atingiu o rapaz, leva os dois para a delegacia, onde faz o registro da ocorrência: “tentativa de homicídio”. A vítima leva seis pontos na cabeça.
A garotada agitada continua nos impropérios, constrangimentos e panelaço, e eis que, quase quatro da manhã… chega o BOPE, marcando sua forte presença de sempre, soltando bombas de gás lacrimogênio, atirando com balas de borracha e, para completar a apoteose da alvorada dessa Bastilha carioca, espargindo spray de pimenta a torto e à direita.
Nessa altura, a multidão de manifestantes, que às três e meia da manhã já estava reduzida a uma centena, ficou ainda menor. Eram apenas uns 50 mais experientes, já com suas máscaras anti-spray nos rostos.
Enfim, os últimos convidados, que aguardavam no foyer do hotel pela oportunidade de deixar a festa, conseguem partir. Vão deixando o casamento Barata e tossem, viram os olhos, engasgam com o spray de pimenta. Os manifestantes de máscara anti-spray gozam, a repórter estica o microfone: “Tá gostando, cara?”.
Foi um acontecimento totalmente atípico, inédito. Já houve manifestações de protesto em casamentos de políticos e pessoas importantes. Como no da filha do senador Álvaro Pacheco, décadas atrás, tendo José Sarney, presidente da República, como padrinho, na Igreja do Largo de São Francisco.
Mas nada, jamais, em tempo algum, se comparou à ferocidade do acontecimento irado deste 14 de Julho carioca, em nosso Versailles, o Copa, que, ainda bem, nada teve de noite de Tulherias nem de cabeça espetada em ponta de lança. Mas teve cabeça rachada de manifestante. O que já foi um triste começo.
PS: O parágrafo final foi modificado em 15/07/2013, às 13:02, por livre e espontânea vontade da autora
Hildegard Angel
- Aqui vão breves considerações, deste humilde súdito do reino de Avilan:
- Quando li esta completa descrição da cobertura da efeméride, feita por uma expert em assuntos da Corte, confesso que fiquei na dúvida sobre como nomeá-la, se chamava de O Baile da Ilha Fiscal, a Queda da Bastilha ou Os Últimos Dias de Pompéia!
- Pela descrição fica a impressão que os nobres e fidalgos da Corte andam esticando a corda e querem pagar pra ver.
- Como não poderia deixar de ser, o inacreditável Poder Judiciário se fez representar muito bem, através da sua mais completa tradução!
- Por fim, vamos combinar, Latino está para o Copa, assim como Eike está para presidente da Petrobras; nobre deputado Paulo Maluf para tesoureiro do Federal Reserve; nobre deputado Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos; nobre senador Blairo Maggi para ministro do Meio-Ambiente; nobre deputado Jader Barbalho para presidente da Sudene; o nobre imortal Paulo Coelho para Sócrates; nobre senador Renan Calheiros para presidente da Comissão de Ética do Senado Federal; Felipão para o Guardiola e o Íbis para o Barcelona!
POMPA E CIRCUNSTÂNCIA
É provável que tenha sido um dos casamentos mais caros do ano, R$ 2 milhões, e o mais inadequado para o momento em que a onda de protestos teve como motivação inicial o alto preço e a má qualidade dos transportes públicos. É que o avô da noiva, Jacob Barata, é ninguém menos que o empresário conhecido no Rio como Rei dos Ônibus, e o pai do noivo, o ex-deputado Francisco Feitosa, é seu sócio em negócios no Ceará. A união do poder econômico, a pompa ostensiva e algumas infrações soaram como deboche: os dois Mercedes que conduziam os pais e padrinhos dos nubentes, por exemplo, carregavam 22 multas e permaneceram duas horas estacionados debaixo da placa “proibido estacionar”. Assim, antes da cerimônia, na entrada da Igreja do Carmo, no Centro da cidade, cerca de 100 “espectadores” organizaram protestos, mas pacíficos e bem-humorados. Além de cartazes gozando o acontecimento — “Uuuuu, todo mundo pra Bangu”; “Hahaha, o noivo vai broxar” —, um casal encenava uma paródia em que ela de branco, véu e grinalda, oferecia baratas de plástico em bandeja. A polícia manteve distância e não precisou intervir.
A recepção no Copacabana Palace, porém, degenerou. Enquanto os manifestantes vaiavam os que iam chegando, alguns convidados de dentro do hotel revidavam lançando cédulas de real. Até que alguém jogou da sacada um cinzeiro na cabeça do jovem Ruan Martins do Nascimento, que estava protestando. Ferido, ele foi levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde recebeu seis pontos. O principal acusado da agressão, reconhecido pela vítima, é o sobrinho-neto de Barata, Daniel, de 18 anos, que nega, assumindo apenas como erro ter jogado um aviãozinho feito de R$ 20 sobre os que estavam lá embaixo.
Para agravar a situação, faltava um personagem, que ultimamente tem estado presente em todas as ocorrências desse tipo: a Tropa de Choque, que chegou exibindo toda a sua truculência. Embora o ato de violência tivesse partido de dentro da festa, não dos que protestavam do lado de fora, os PMS desembarcaram espalhando spray de pimenta e apontando seus fuzis com bombas de efeito moral contra os manifestantes. Pelo menos dessa vez não jogaram gás lacrimogêneo no interior de clínica médica, como na semana passada. Por que tanto despreparo?
Ontem, o secretário de Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, reconheceu os excessos da polícia, prometeu punição e disse que o governo vai criar cursos de aperfeiçoamento e capacitação para os PMs. Ótimo. Mas alguma providência mais urgente precisa ser tomada para disciplinar as tropas que estão saindo às ruas. (jornalista Zuenir Ventura – O Globo – 17.07.2013)
ULTRAJE A RIGOR
Como uma boa fábula, “O Casamento da dona Baratinha” vem sendo recontada em versão popular – e carioca - desde 14 de Julho. Não se sabe o final da saga de protestos contra a família de Jacob Barata, o “Rei dos Ônibus” do Rio de Janeiro.
Os novos capítulos, que transcorrem agora em delegacias, já deixam muitas lições. Não é o caso de repeti-las aqui. Mas é sempre bom atentar para o que não foi dito.
As lacunas do discurso costumam ser reveladoras: evidenciam como é dura e longa a caminhada dos brasileiros para alcançar e ver respeitados seus direitos civis básicos. Nessa fábula pós-moderna sobre mobilidade urbana, que migrou dos salões barrocos e neoclássicos para a arena pública da internet, os grandes ausentes foram a noção e a prática da cidadania.
A moral da história contemporânea da Baratinha é uma só: os usuários de transporte coletivo na segunda capital do país não mereceram daqueles que vivem de explorar essa concessão pública sequer o tratamento de consumidores – muito menos de contribuintes e cidadãos. Foram vistos quase como lúmpen, clientela garantida, que deixa o dinheiro na roleta por absoluta falta de opção.
Se houvesse alguma relação horizontal e moderna, comercial que fosse, entre donos de ônibus e passageiros, talvez os concessionários tivessem questionado a conveniência de realizar uma festa particular milionária, num momento em que o país e o Rio continuam a se insurgir nas ruas contra as tarifas e a má qualidade do serviço de transporte público.
A corte do “Rei dos Ônibus” mostrou-se desconectada da realidade – e muito acima da população. O símbolo mais eloquente disso foi o aviãozinho de R$20,00 (cem vezes os R$0,20 que desencadearam as passeatas), atirado da sacada do Copacabana Palace por Daniel Barata, personagem principal dos novos capítulos.
Intimado pela polícia por suspeita de outras agressões (que nega), Daniel, que é primo da noiva Beatriz Barata, tem 18 anos – e há quem veja na juventude atenuante para seu ostensivo desprezo pelos manifestantes.
Em nota, a família Barata lamentou a violência – um manifestante foi ferido por cinzeiro jogado por um “vândalo classe A” - e colocou-se na posição de vítima, sem mencionar a tensão social que sacode o país. Muita gente exaltada exigindo há semanas a CPI dos Ônibus não foi alerta suficiente. A reivindicação teve de bater à porta da igreja e do hotel de luxo.
Mara Bergamaschi é jornalista e escritora. Foi repórter de política do Estadão e da Folha em Brasília. Hoje trabalha no Rio, onde publicou pela 7Letras “Acabamento” (contos,2009) e “O Primeiro Dia da Segunda Morte” (romance,2012). É co-autora de “Brasília aos 50 anos, que cidade é essa?” (ensaios,Tema Editorial,2010). Escreve aqui às quintas-feiras.


JACOB BARATA SERÁ ACIONISTA DO PAPAMÓVEL
NÁPOLI - O consórcio que administra o Rio de Janeiro anunciou que Jacob Barata terá 51% dos direitos de exploração do Papamóvel enquanto o veículo circular pela cidade. "Implementaremos um taxímetro turbinado pela cooperativa do Santos Dumont, que calculará a tarifa", assegurou o secretário de transportes Julio Lopes Barata Odebrecht Batista.
Para tanto, será construído um Barata Rapid Transit, BRT, de forma que o Papamóvel possa transitar sem os incômdos das manifestações. "Caso os vândalos insistam em depredar a reputação da honrada família Barata, o BOPE está autorizado a usar spray de Baygon", explicou o secretário.
O consórcio também aprovou uma lei estadual que confere a Jacob Barata o direito de ser o fornecedor exclusivo de bicicletas, skates, patins, patinetes e tênis para jogging na cidade. "Os passeios pela orla precisavam de um Choque de Ordem há muito tempo. Estava tudo uma bagunça, cada um levando seu veículo de casa", esclareceu Eduardo Paes.
No final do dia, ficou acertado que Barata terá o direito de explorar as passeatas pela Rio Branco. Marcelo Freixo foi visto caminhando pelo Copacabana Palace com um chinelo na mão.
- Nesta republiqueta desavergonhada, aética e amoral, só mesmo no achincalhe!

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