quarta-feira, julho 01, 2015




FINALMENTE SURGE UM LÍDER NATO DE OPOSIÇÃO



























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O MOMENTO GORBATCHOV DE LULA
A ‘revolução’ que Nosso Guia espera é uma ideia tardia, a‘gente nova’ pensa numa direção oposta à dele
Lula, essa metamorfose ambulante, apresentou-se com uma nova roupa. Dizendo-se “velho” e “cansado”, defendeu uma “revolução interna” no Partido dos Trabalhadores. Quer colocar nele “gente nova, gente que pensa diferente”. Por duas razões, é possível que esteja perdendo seu tempo.
Primeiro porque não está falando sério. Ele diz: “Não sei se é defeito nosso, ou do governo”. Se acha que o defeito pode ser do governo, e não “nosso”, acredita que alguém seja capaz de separar um do outro. Diz mais: “Eu acho que o PT perdeu um pouco de sua utopia”. Casos como o do assassinato de Celso Daniel, o mensalão e as petrorroubalheiras dificultam e percepção de que o PT tenha perdido só “um pouco de sua utopia”. Com a proteção que Lula e o partido deram aos comissários nos escândalos que hoje os trituram ele perdeu toda a utopia. Pior, detonou as utopias históricas dos grandes contratadores de negócios com o Estado. Num fato inédito desde que o Marechal Deodoro foi acusado de proteger uma empreiteira, conexões petistas levaram maganos para a cadeia. Os companheiros que prometiam prender empresários corruptos ajudaram a conduzir bilionários simpáticos à sua tesouraria para a carceragem de Curitiba, e foram junto.
O segundo motivo pelo qual Lula pode estar perdendo seu tempo foi exposto ao país no congresso do partido em Salvador, quando o nome do tesoureiro João Vaccari Neto recebeu uma ovação do plenário. A “gente nova” que um dia foi para o PT hoje grita nas ruas para que ele se vá.
Aos 69 anos, a guinada utópica de Lula tem alguns ingredientes da ilusão de Mikhail Gorbatchov quando pensou em rejuvenescer o sistema político soviético. Ele achou que o Partido Comunista tinha conserto. Felizmente para o Brasil, o PT pode viver sua crise sem destruir o Estado. Como no baralho do regime de Gorbatchov não havia a carta da regeneração, ele acabou como garoto-propaganda das malas Louis Vuitton.
Apesar de tudo isso, não se deve subestimar a metamorfose ambulante. Lula surgiu no cenário nacional emergindo vitorioso de uma greve com a qual pouco teve a ver, a da Scania em 1978. E triunfou nos dois anos seguintes liderando paralisações ruinosas. Já entrou em assembleia tendo feito um acordo com o patronato e, ao sentir o clima de peãozada, renegou o acerto, marchando heroicamente para uma derrota. Saiu vitorioso no fracasso. Cresceu a cada um desses lances, chegou ao Planalto e colocou um poste no seu lugar.
A primeira eleição de Lula deveu-se em boa parte às suas virtudes. A partir daí, os êxitos do PT deveram-se principalmente às inclinações demofóbicas de seus adversários. Quando Lula surpreende dizendo que tanto ele como a doutora Dilma estão no “volume morto”, a oposição rejubila-se, como se isso lhe bastasse. Esquece-se que até bem pouco, quem estava literalmente no volume morto era o governador Geraldo Alckmin, ameaçado por um racionamento de água em São Paulo. Depois de dez meses de ansiedade, subiu o nível do sistema Cantareira e o tucano é candidato a presidente.
A guinada e o rejuvenescimento petista são utopias que Lula vende mas não compra. Sua esperança está onde sempre esteve: na demofobia dos adversários.
(Elio Gaspari – jornalista – O Globo 24.06.2015)
- Simples assim, mas só quero ver quando ele vai querer fazer uma delação premiada!

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