segunda-feira, março 09, 2009
AMENIDADES
Se havia algo que deixava o delegado Carlos Henrique consternado, era choro de mulher.
Ainda mais quando ela tinha 30 anos, era bonita e sensual.
- Mas o que foi que aconteceu, meu anjo? Conta pra mim.
Maristela - era esse o nome da vítima - fez beicinho:
- Ele me bateu.
Dr. Carlos Henrique trincou os dentes:
- Ele, quem?
- O Jorjão. Sentiu o peito arfar:
- E quem é esse Jorjão?
- É, bem, como eu posso dizer? Ah, deixa pra lá, doutor. Acho melhor não registrar nada.
Dr. Carlos Henrique pousou a mão naquele ombro macio, carnudo:
- Posso lhe dizer uma coisa?
Maristela ficou em silêncio. O delegado insistiu:
- Com toda a experiência?
Ela balançou a cabeça, afirmativamente:
- Pode.
- Se você não denunciar esse patife, ele vai te bater de novo.
Abriu o olho roxo:
- O senhor acha?
- Tenho certeza, meu doce - alisou o hematoma.
- Aliás, vou expedir uma guia para o Instituto Médico-Legal fazer o exame de corpo de delito. Está horrível.
Apesar dos pesares, ela sorriu:
- O senhor ainda não viu nada.
- Ele fez pior ainda?
Maristela pôs a mão na coxa: - Me deu um chute aqui.
- Ficou a marca?
- Uma mancha enorme.
- Entre aqui no meu gabinete que eu quero ver.
- Então, feche a porta, doutor.
Dr. Carlos Henrique deu três voltas com a chave e mais quatro com o ferrolho. Tapou o buraco da fechadura com uma fita adesiva:
- Assim está bom?
- Ótimo. Agora, ligue o ar e prepare uma bebida para nós dois.
- Vinho?
Maristela mordeu o lábio ferido e exigiu:
- Se tiver uísque, eu prefiro.
- Tenho sempre um litro guardado para essas emergências, meu anjo. Puro ou com gelo?
- Puro.
O delegado serviu duas doses. Maristela pegou a sua e bebeu tudo em apenas três goles. Estalou os beiços:
- Vou tirar a roupa.
- Mostra tudo, meu doce.. Quero ver todos os hematomas.
- Apaga aquela luz ali. Deixa só a do corredor.
Dr. Carlos Henrique estava arrepiado:
- Isto aqui tá parecendo estúdio da Playboy. Tira tudo meu anjo, tira..
- Tô tirando. Pronto.
O delegado, nervoso:
- Preciso acender. Quero ver de perto para poder descrever nos autos.
Êpaaaa!!!
- O que foi doutor?
- Você é homem, cara!
- É com isso que o Jorjão não se conforma.
PENSAMENTO DO DIA
O fracasso da política de repressão pura e simples é aparentemente um dos bons argumentos apresentados em defesa dadescriminalização da maconha. Mas ele guarda uma tragédia moral vivida pela civilização de nossos tempos. Quando não conseguimos derrotar um inimigo, simplesmente aderimos a ele. (jornalista Jorge Antonio Barros em artigo publicado em O Globo – 19.02.2009)
- Pois é, aliás, o artigo é bem interessante, inclusive ressalta que o Estado vai trocar as despesas com a repressão policial pelas de saúde pública.
- Como não se investe nem numa coisa nem noutra, teremos um grande sanatório geral.
ASSIM CAMINHA A REPUBLIQUETA DOS PRESUMIVELMENTE INOCENTES
Finalmente, ou quase, já que ainda cabe ao respeitabilíssimo STF dar a palavra final, depois de dois anos e meio, entre uma decisão e outra, uma liminar e outra, o nobre governador da Paraíba Ronaldo Cunha Lima foi cassado por suas maracutaias lá pelas terras de João Pessoa, enquanto naquele país atrasado que não respeita o amplo direito de defesa, os EUA, aquele governador safado que andou querendo vender a vaga de senador do presidente Obama, em menos de seis meses teve o mandado cassado. Até aí tudo bem, afinal, ninguém, como a republiqueta, pode chegar a perfeição de “ter as leis mais avançadas do mundo”. Assumiu no seu lugar, o segundo colocado, isto é, o senador José Maranhão que por sua vez tem ...OITO processos contra si pelo mesmo crime do que perdeu o mandato (Portal G1 – 19.02.2009), compra de votos. No seu lugar, no respeitabilíssimo Senado Federal, assumiu seu suplente, o nobre empresário Roberto Cavalcanti Ribeiro processado por corrupção ativa, estelionato, formação de quadrilha, uso de documentos falsos e (UFA!) crimes contra a paz pública (O Globo – 19.02.2009).
O escritório de advocacia que o representa informa, de acordo com o mesmo jornal, confirma a existência de processo, mas esclarece que um hábeas corpus concedido pelo respeitabilíssimo STJ o excluiu das acusações de crimes de estelionato e formação de quadrilha – ah bom, restaram apenas corrupção ativa, uso de documentos falsos e crimes contra a paz pública.
Sua Excelência, agora investido no cargo de senador, ouvido pela reportagem, mandou:
“Nenhum desses processos me preocupa. Referem-se a fatos ocorridos em 1997, ou seja, há doze anos, e não comprometem meu mandato”.
- Ah bom, também. Eu, se pertencesse a turma do andar de cima, fosse cínico, morasse numa republiqueta com um Poder Judiciário destes que em mais de dez anos não consegue julgar o processo de corrupto, também não me preocuparia, até porque, agora, com a assunção à senatoria acaba de ganhar foro privilegiado, o processo sobe ao respeitabilíssimo STF e por lá ficará deitado eternamente em berço esplêndido até a sua prescrição!
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