sexta-feira, dezembro 02, 2011

















AMENIDADES
Dois turistas do Brasil estão passeando por uma cidade de Portugal quando avistam uma loja com uma placa assim:
- Calças: 4,00 euros;
- Camisas: 3,00 euros;
- Ternos: 9,00 euros.
Um dos turistas vira para o outro e fala:
- Poxa! Isso é muito barato, nós podemos comprar e levar para o Brasil para vender lá. Vamos ganhar um bom dinheiro.
O segundo concorda e diz:
- Você tá certo. Vamos lá. Mas deixa eu falar, porque meu pai é português e eu sei imitar o sotaque com perfeição. Se notarem que somos brasileiros pode ser que não vendam para nós.
Então, os dois “espertos” entram na loja e pedem duzentas camisas, duzentas calças e cem ternos, com um sotaque impecável. O balconista diz:
- Já sei! Vocês dois são brasileiros, não são?
Assustado com o “flagra”, o filho do português fala:
- Sim, mas como você descobriu?
E o homem:
- Foi simples. Isso aqui é uma lavanderia…


PENSAMENTO DO DIA
Só mesmo à bala. O sujeito tem que ser muito cara de pau pra ter a coragem de chegar para a presidente da República e dizer que não sabia que poderia acumular dois cargos públicos, ainda mais em lugares bem distantes um do outro! (JM-Sem Perdão)




MEU ENCONTRO COM NEM
Era sexta-feira 4 de novembro. Cheguei à Rua 2 às 18 horas. Ali fica, num beco, a casa comprada recentemente por Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, por R$ 115 mil. Apenas dez minutos de carro separam minha casa no asfalto do coração da Rocinha. Por meio de contatos na favela com uma igreja que recupera drogados, traficantes e prostitutas, ficara acertado um encontro com Nem. Aos 35 anos, ele era o chefe do tráfico na favela havia seis anos. Era o dono do morro.
Queria entender o homem por trás do mito do “inimigo número um” da cidade. Nem é tratado de “presidente” por quem convive com ele. Temido e cortejado. Às terças-feiras, recebia a comunidade e analisava pedidos e disputas. Sexta era dia de pagamentos. Me disseram que ele dormia de dia e trabalhava à noite – e que é muito ligado à mãe, com quem sai de braços dados, para conversar e beber cerveja. Comprou várias casas nos últimos tempos e havia boatos fortes de que se entregaria em breve.
Logo que cheguei, soube que tinha passado por ele junto à mesa de pingue-pongue na rua. Todos sabiam que eu era uma pessoa “de fora”, do outro lado do muro invisível, no asfalto. Valas e uma montanha de lixo na esquina mostram o abandono de uma rua que já teve um posto policial, hoje fechado. Uma latinha vazia passa zunindo perto de meu rosto – tinha sido jogada por uma moça de short que passou de moto.
Aguardei por três horas, fui levada a diferentes lugares. Meus intermediários estavam nervosos porque “cabeças rolariam se tivesse um botãozinho na roupa para gravar ou uma câmera escondida”. Cheguei a perguntar: “Não está havendo uma inversão? Não deveria ser eu a estar nervosa e com medo?”. Às 21 horas, na garupa de um mototáxi, sem capacete, subi por vielas esburacadas e escuras, tirando fino dos ônibus e ouvindo o ruído da Rocinha, misto de funk, alto-falantes e televisores nos botequins. Cruzei com a loura Danúbia, atual mulher de Nem, pilotando uma moto laranja, com os cabelos longos na cintura. Fui até o alto, na Vila Verde, e tive a primeira surpresa.
LOGÍSTICA
A Rocinha é uma das maiores favelas do Rio. Entre os bairros ricos da Zona Sul e a Barra da Tijuca, é um ponto estratégico para o crime (Foto: Genilson Araújo/Parceiro/Ag. O Globo)
Não encontrei Nem numa sala malocada, cercado de homens armados. O cenário não podia ser mais inocente. Era público, bem iluminado e aberto: o novo campo de futebol da Rocinha, com grama sintética. Crianças e adultos jogavam. O céu estava estrelado e a vista mostrava as luzes dos barracos que abrigam 70 mil moradores. Nem se preparava para entrar em campo. Enfaixava com muitos esparadrapos o tornozelo direito. Mal me olhava nesse ritual. Conversava com um pastor sobre um rapaz viciado de 22 anos: “Pegou ele, pastor? Não pode desistir. A igreja não pode desistir nunca de recuperar alguém. Caraca, ele estava limpo, sem droga, tinha encontrado um emprego... me fala depois”, disse Nem. Colocou o meião, a tornozeleira por cima e levantou, me olhando de frente.
Foi a segunda surpresa. Alto, moreno e musculoso, muito diferente da imagem divulgada na mídia, de um rapaz franzino com topete descolorido e riso antipático, como o do Coringa. Nem é pai de sete filhos. “Dois me adotaram; me chamam de pai e me pedem bênção.” O último é um bebê com Danúbia, que montou um salão de beleza, segundo ele “com empréstimo no banco, e está pagando as prestações”. Nem é flamenguista doente. Mas vestia azul e branco, cores de seu time na favela. Camisa da Nike sem manga, boné, chuteiras.
– Em que posição você joga, Nem? – perguntei.
– De teimoso – disse, rindo –, meu tornozelo é bichado e ninguém me respeita mais em campo.
Foi uma conversa de 30 minutos, em pé. Educado, tranqüilo, me chamou de senhora, não falou palavrão e não comentou acusações que pesam contra ele. Disse que não daria entrevista. “Para quê? Ninguém vai acreditar em mim, mas não sou o bandido mais perigoso do Rio.” Não quis gravador nem fotos. Meu silêncio foi mantido até sua prisão. A seguir, a reconstituição de um extrato de nossa conversa.
Acho que em menos de 20 anos a maconha vai ser liberada no Brasil. Já pensou quanto as empresas iam lucrar? "
Nem, líder do tráfico
UPP “O Rio precisava de um projeto assim. A sociedade tem razão em não suportar bandidos descendo armados do morro para assaltar no asfalto e depois voltar. Aqui na Rocinha não tem roubo de carro, ninguém rouba nada, às vezes uma moto ou outra. Não gosto de ver bandido com um monte de arma pendurada, fantasiado. A UPP é um projeto excelente, mas tem problemas. Imagina os policiais mal remunerados, mesmo os novos, controlando todos os becos de uma favela. Quantos não vão aceitar R$ 100 para ignorar a boca de fumo?”
Beltrame “Um dos caras mais inteligentes que já vi. Se tivesse mais caras assim, tudo seria melhor. Ele fala o que tem de ser dito. UPP não adianta se for só ocupação policial. Tem de botar ginásios de esporte, escolas, dar oportunidade. Como pode Cuba ter mais medalhas que a gente em Olimpíada? Se um filho de pobre fizesse prova do Enem com a mesma chance de um filho de rico, ele não ia para o tráfico. Ia para a faculdade.”
Religião “Não vou para o inferno. Leio a Bíblia sempre, pergunto a meus filhos todo dia se foram à escola, tento impedir garotos de entrar no crime, dou dinheiro para comida, aluguel, escola, para sumir daqui. Faço cultos na minha casa, chamo pastores. Mas não tenho ligação com nenhuma igreja. Minha ligação é com Deus. Aprendi a rezar criancinha, com meu pai. Mas só de uns sete anos para cá comecei a entender melhor os crentes. Acho que Deus tem algum plano para mim. Ele vai abrir alguma porta.”
Prisão “É muito ruim a vida do crime. Eu e um monte queremos largar. Bom é poder ir à praia, ao cinema, passear com a família sem medo de ser perseguido ou morto. Queria dormir em paz. Levar meu filho ao zoológico. Tenho medo de faltar a meus filhos. Porque o pai tem mais autoridade que a mãe. Diz que não, e é não. Na Colômbia, eles tiraram do crime milhares de guerrilheiros das Farc porque deram anistia e oportunidade para se integrarem à sociedade. Não peço anistia. Quero pagar minha dívida com a sociedade.”
Drogas “Não uso droga, só bebo com os amigos. Acho que em menos de 20 anos a maconha vai ser liberada no Brasil. Nos Estados Unidos, está quase. Já pensou quanto as empresas iam lucrar? Iam engolir o tráfico. Não negocio crack e proíbo trazer crack para a Rocinha. Porque isso destrói as pessoas, as famílias e a comunidade inteira. Conheço gente que usa cocaína há 30 anos e que funciona. Mas com o crack as pessoas assaltam e roubam tudo na frente.”
Recuperação “Mando para a casa de recuperação na Cidade de Deus garotas prostitutas, meninos viciados. Para não cair na vida nem ficar doente com aids, essa meninada precisa ter família e futuro. A UPP, para dar certo, precisa fazer a inclusão social dessas pessoas. É o que diz o Beltrame. E eu digo a todos os meus que estão no tráfico: a hora é agora. Quem quiser se recuperar vai para a igreja e se entrega para pagar o que deve e se salvar.”
Ídolo “Meu ídolo é o Lula. Adoro o Lula. Ele foi quem combateu o crime com mais sucesso. Por causa do PAC da Rocinha. Cinquenta dos meus homens saíram do tráfico para trabalhar nas obras. Sabe quantos voltaram para o crime? Nenhum. Porque viram que tinham trabalho e futuro na construção civil.”
Policiais “Pago muito por mês a policiais. Mas tenho mais policiais amigos do que policiais a quem eu pago. Eles sabem que eu digo: nada de atirar em policial que entra na favela. São todos pais de família, vêm para cá mandados, vão levar um tiro sem mais nem menos?”
Tráfico “Sei que dizem que entrei no tráfico por causa da minha filha. Ela tinha 10 meses e uma doença raríssima, precisava colocar cateter, um troço caro, e o Lulu (ex-chefe) me emprestou o dinheiro. Mas prefiro dizer que entrei no tráfico porque entrei. E não compensa.”
Nem estava ansioso para jogar futebol. Acabara de sair da academia onde faz musculação. Não me mandou embora, mas percebi que meu tempo tinha acabado. Desci a pé. Demorei a dormir.
(jornalista Ruth de Aquino – revista Época - http://revistaepoca.globo.com/tempo/noticia/2011/11/meu-encontro-com-nem.html - 12.11.2011)
- Não sei não, mas acho que a nobre jornalista, talvez pretendendo abiscoitar um Prêmio Esso, destes da vida, comprou gato por lebre!
- Tivesse aguardado mais um pouquinho poderia ser melhor informada pelo anjo que pintou, evitando correr risco de vida!
DESCONSTRUINDO NEM

Anos de terror: Bandido impôs a violência mais cruel nos morros evitando sujar as mãos.
RIO - Com ordens de execuções, espancamentos e lei do silêncio, o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, impôs aos moradores das favelas da Rocinha, do Vidigal e da Chácara do Céu longos seis anos de terror. Aos 35 anos, o bandido, até ser capturado, usava métodos semelhantes aos de chefões da máfia italiana que passamos a conhecer no cinema: dava um valor enorme à família diz ter entrado no crime para pagar o tratamento da filha que sofria de uma doença óssea rara , falava poucas gírias e palavrões e evitava pegar em armas. Mas era ele quem garantia o arsenal da quadrilha e dava a palavra final no tribunal do tráfico. Manteve-se assim, encobrindo sua face violenta com discrição e presentes que dava aos moradores, e pagando um mensalão a policiais da banda podre que, segundo declarou à Polícia Federal, chegava à metade do que arrecadava, R$ 500 mil.
A verdadeira personalidade de Nem pode ser traçada a partir de relatos de moradores e de muitas escutas feitas quando ele ainda sequer era "dono" absoluto do morro. Seu lado mais cruel se revela. O mestre, como fazia questão de ser chamado, não admitia roubos que podiam atrair a polícia para a favela. Chegou a mandar surrar crianças. Uma vez, o ladrãozinho teve as mãos marcadas ao segurar um ovo quente. Nada podia atrapalhar os negócios.
A vida pessoal também era pretexto para seu exercício de poder. Vaidoso, exibia, com boas roupas e coberta de ouro, sua preferida, Danúbia Rangel, uma loura cheia de curvas, de cerca de 25 anos, que circulava pelas vielas da favela de moto e gostava de se exibir em bailes funks. Bailes patrocinados por ele, diga-se de passagem. Mas bastava alguém ousar olhar duas vezes para sua mulher que o "mestre" mandava dar um "pau" no incauto. Ou nela mesma.
Segundo policiais federais, o império das drogas de Nem foi mantido ainda com matanças de traidores e opositores, expulsando moradores da favela e ordenando espancamentos públicos para punir detratores e pequenos transgressores flagrados agindo nas favelas sob seu domínio.
Para manter seus negócios, ele atuava em três frentes: pagava propina alta à banda podre da polícia para manter seus negócios ilícitos, mandava matar inimigos e investia no assistencialismo. Não há notícia de que tenha matado alguém de próprio punho, mas temos informações de que várias pessoas foram executadas por ordem dadas diretamente por ele afirmou o delegado Victor Hugo Poubel, da Polícia Federal do Rio.
Diálogos captados em escutas telefônicas, feitas quando Nem ainda não tinha chegado ao topo do tráfico na Rocinha, comprovam que o traficante sempre foi implacável. Em processo que corre na 33 Vara Criminal, um bandido conhecido como "Peteleco" presta contas a Nem de como tratou um inimigo da facção rival do Jacaré e da Providência que teria sido torturado no Vidigal e depois executado em 2006:
Tá com um cabo na b. Quebraram ele (mataram).
Poubel coordenou as operações federais que levaram as prisões dos traficantes Alexander Mendes da Silva, o Polegar (localizado em Pedro Juan Caballero, no Paraguai), de Nem e de outras seis pessoas, entre elas os traficantes Sandro Luiz de Paula Amorim, o Peixe, e seu sócio Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, chefes do tráfico no Complexo do São Carlos. Operações consideradas fundamentais para o sucesso da entrada, sem resistência, das forças de segurança nas três comunidades da Zona Sul.
De acordo com ele, os inúmeros registros de pessoas desaparecidas nas favelas não deixam dúvidas sobre violência de Nem. No dia em que as favelas da Rocinha, do Vidigal e da Chácara do Céu foram ocupadas, cães farejadores da Polícia Federal encontraram na mata que cerca as três comunidades dois cemitérios clandestinos. Ossadas foram recolhidas e levadas para o Instituto Médico-Legal (IML). Uma delas pode ser da modelo Luana Rodrigues de Sousa, de 20 anos, que desapareceu em maio deste ano, depois de receber um telefonema. Na última vez que foi vista, a modelo subia a Rocinha pela Estrada da Gávea. Luana teria sido executada depois de Nem ter descoberto que ela mantinha um relacionamento amoroso com um militar lotado no 23 BPM (Leblon).
Ao dar a ordem, o traficante Nem, apontaram investigações da polícia, acreditava que a modelo estaria repassando informações de sua quadrilha para os policiais. Em pelo menos duas ocasiões este ano, apreensões de grande quantidade de drogas deixaram o bandido revoltado. Luana foi assassinada no alto da Favela da Rocinha, mas não morreu sozinha: uma amiga e um rapaz foram mortos na mesma ocasião. O bandido não queria testemunhas. Os três tiveram os corpos destroçados e enterrados na mata. Uma investigação da Divisão de Homicídios (DH) chegou aos autores, entre eles Nem.
Traficante nunca é bonzinho. Ele ordena assassinatos toda vez que corre risco de ter sua liderança contestada. Manda matar, espancar ou expulsa quem duvida de suas ordens afirma Victor Cesar Santos, outro delegado da PF do Rio, que foi chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecente (DRE).
O traficante assumiu o controle de toda a Favela da Rocinha em 29 de outubro de 2005, quando a Polícia Civil matou Eriomar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi. Agentes foram infiltrados na favela após uma operação e lá permaneceram. Bem-Te-Vi comandava o tráfico na parte baixa da favela, enquanto a parte de cima estava sob controle de um traficante conhecido como Lion. Nem assume o comando do tráfico e passa a controlar todo o complexo, incluindo o alto da Rocinha, o Vidigal e a Chácara do Céu.
Ele descobriu cedo que a imagem era um capital importante. Ao mesmo tempo que permitia que um bandido espancasse uma criança, ele mandava espancar o bandido quando a mãe da vítima o procurava para reclamar.
Um dos casos mais absurdos que me lembro foi quando bandidos da boca espancaram uma criança, acusada de um roubo. O menino levou coronhadas e foi surrado com cabo de fuzil. Quando a mãe procurou o traficante para reclamar, Nem se mostrou surpreso com o fato e determinou que o bandido que surrara a criança fosse também espancado conta um morador, sem se identificar,
Manipulador, Nem criou para si um personagem que começou a ser desconstruído com a prisão, quando o lobo que sempre foi saltou como fera acuada do porta-mala de um carro. (O Globo – 20.11.2011)

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